
A Justiça condenou um suplente de vereador de São José dos Campos, que também é servidor comissionado da Prefeitura, por ameaçar a ex-esposa. Ademir Rodrigues Pereira recebeu pena de um mês e cinco dias de detenção, em regime aberto, e pagamento de indenização de R$ 1.000. Cabe recurso.
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O crime ocorreu em dezembro de 2022, quando Ademir ainda era casado, e foi registrado em vídeo. Na gravação, entre outras coisas, o homem diz para a então esposa: "vou dar um tiro na sua cara".
A sentença foi expedida pelo juiz Ayrton Vidolin Marques Júnior, da Vara da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Autor da ação, o Ministério Público informou à Justiça que não irá recorrer para tentar o aumento da pena.
A ex-esposa de Ademir, que também alega ter sido agredida por ele ao longo dos 20 anos de casamento, lamentou o que considerou uma pena baixa. "Fiquei indignada, esperava que [a sentença] fosse mais pesada, iguais as porradas que ele me dava. Mas o juiz só determinou o que a lei ordena", disse Ana Maria Braga.
Ademir, que é suplente de vereador pelo PRD, não se manifestou sobre a sentença. O advogado dele, Emerson Souza, disse que não poderia comentar o caso porque o processo corre em segredo de justiça. À Justiça, Ademir e o advogado manifestaram interesse em recorrer.
Ameaça.
As ameaças foram feitas no dia 4 de dezembro de 2022, como mostra uma gravação feita por uma câmera que havia sido instalada na sala da casa em que Ademir morava com a então esposa e com a filha, que à época tinha 16 anos (veja o vídeo abaixo).
No começo da gravação, que tem 8 minutos e 43 segundos, Ademir surge com voz pastosa e começa a discutir com a então esposa por questões relacionadas aos carros do casal. Ana disse à reportagem que o marido estava embriagado - OVALE optou por reproduzir apenas um trecho do vídeo, para preservar a intimidade da mulher e da filha; e como a jovem era menor de idade à época, a imagem foi borrada nos momentos em que a menina aparece na gravação.
Em certo momento da conversa, Ademir fica exaltado e diz: "você está brincando com fogo, você não me conhece". A mulher pergunta então se ele iria bater nela, e Ademir responde: "vou dar um tiro na sua cara". Nesse momento, a filha do casal intervém.
Mais para a frente, após Ademir negar que tivesse dito que daria um tiro na cara da esposa, a mulher mostra que a câmera de segurança da sala teria gravado a conversa. Ademir, então, parece desferir um golpe em direção ao equipamento, que para de gravar. Segundo Ana, o então marido também teria dito que iria "meter um machado na sua cabeça" e que iria "quebrar o seu pescoço".
Histórico.
Ademir foi funcionário de carreira da Prefeitura entre 1983 e maio de 2024, quando foi aposentado - a aposentadoria foi oficializada logo após o caso de ameaça vir à tona.
Em março de 2023, Ademir foi punido com 29 dias de suspensão por envolvimento no caso em que houve cobrança indevida de valores a uma moradora que tentava regularizar uma obra na casa dela. Além da suspensão, Ademir foi exonerado do cargo comissionado de supervisor que ocupava à época e voltou para o cargo efetivo de comprador, na Secretaria de Manutenção da Cidade, no qual se aposentou no ano ado.
Apesar da infração istrativa e de ser réu por ameaça, em fevereiro de 2025 Ademir voltou à Prefeitura, em novo cargo comissionado: assessor especial de serviços regionais, novamente na Secretaria de Manutenção da Cidade. Recebe salário de R$ 8.942,33.
Na eleição de 2020, Ademir recebeu 2.009 votos e ficou como segundo suplente do PTB, o atual PRD (Partido Renovação Democrática). Na eleição de 2024, também pelo PRD, recebeu 2.236 votos e ficou como quinto suplente da legenda. O partido integra a base de apoio ao governo do prefeito Anderson Farias (PSD).
Repercussão.
A Prefeitura, onde Ademir é servidor comissionado, foi questionada pela reportagem sobre as consequências da condenação, mas não se manifestou até a publicação do texto. O espaço segue aberto.
A Câmara informou que, “de acordo com a Lei Orgânica do Município, no caso de sofrer condenação criminal em sentença definitiva e irrecorrível (trânsito em julgado), um vereador perde o mandato por votação de dois terços dos membros, mediante provocação da Mesa Diretora ou de partido político representado no Legislativo”.
Ademir é afilhado político do ex-vereador e ex-deputado estadual Alexandre da Farmácia, que é o presidente do diretório municipal do PRD. Procurado nessa segunda-feira, Alexandre não se manifestou.