CORTINA DE FUMAÇA

Cacau Show rebate denúncias e minimiza rituais polêmicos

Por Bia Xavier/JP |
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Alê Costa enviou uma carta aos colaboradores pedindo que não deem ouvidos às denúncias
Alê Costa enviou uma carta aos colaboradores pedindo que não deem ouvidos às denúncias

Após a divulgação de denúncias sobre rituais obrigatórios no ambiente de trabalho e casos de discriminação na Cacau Show, a empresa divulgou um comunicado oficial e uma carta assinada pelo CEO Alê Costa, em que tenta deslegitimar os relatos, classificando-os como “informações inverídicas” e “boatos”. Em duas mensagens — uma dirigida ao público e outra aos funcionários — a marca de chocolates tenta suavizar as acusações ao tratar como “práticas espontâneas” ações que, segundo ex-funcionários, eram impostas como demonstração de lealdade à empresa.

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As denúncias, agora investigadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), relatam a realização de cerimônias conduzidas pelo próprio Alê Costa, como rezar o "Pai Nosso" no ambiente corporativo e fazer tatuagens com a palavra "atitude" — a mesma que o fundador ostenta no corpo. A ausência em tais eventos seria interpretada como sinal de descomprometimento com a empresa, o que, segundo os relatos, resultava em perseguições internas. Também há menções a experiências sensoriais com liquor de cacau (não alcoólico), apresentadas pela empresa como um “ritual cultural”, mas que, segundo ex-colaboradores, faziam parte de uma rotina forçada e constrangedora.

Marca tenta preservar imagem e exalta trajetória

Em uma tentativa de conter a crise interna, Alê Costa enviou uma carta aos colaboradores pedindo que não deem ouvidos às denúncias. No texto, o empresário fala em “confiança”, “ética” e “compromisso”, e afirma que a Cacau Show rejeita qualquer acusação contrária aos seus valores. Costa se refere aos episódios como “boatos” e afirma que a empresa sairá “mais forte” da situação.

No comunicado público, a Cacau Show opta por um tom emocional e celebra sua história de mais de 37 anos, citando sua posição de destaque como a maior rede de chocolates finos do mundo, com quase 5 mil lojas. A empresa defende que os rituais são simbólicos e voluntários, e que ações como orações ou celebrações de fim de ano fazem parte de uma “cultura de acolhimento”. A marca também menciona desafios recentes — como a alta no preço do cacau e um incêndio em uma de suas fábricas — como exemplos de superação, reafirmando que seu crescimento é fruto de trabalho ético.

Clima de medo e acusações graves chegam ao MPT

As denúncias encaminhadas ao Ministério Público do Trabalho vão além dos rituais. Segundo os documentos, há relatos de assédio moral e sexual por parte de gestores, além de homofobia e gordofobia dentro da empresa. Ex-funcionários descrevem humilhações públicas, piadas ofensivas e uma cultura de intimidação contra quem decide romper o silêncio. “A franqueadora tem mão de ferro e costuma retaliar quem denuncia os abusos”, diz um trecho do material entregue ao MPT.

O órgão afirmou que o inquérito está em fase inicial de apuração.

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