A pandemia do coronavírus produziu efeitos gravíssimos para a educação brasileira. Foram 44 milhões de crianças e adolescentes que deixaram as salas de aula e a rotina escolar em função do isolamento social.
Segundo levantamento da UNICEF, dos alunos brasileiros regularmente matriculados, mais de 4 milhões não conseguiram dar continuidade aos estudos em casa durante a pandemia. Ainda se estima que mais de 4,8 milhões de crianças e adolescentes não tenham o à internet em suas casas enquanto outras tantas dispõem de o muito precário.
Assim, muitos estudantes não tiveram condições básicas para manter suas atividades escolares, por não possuírem equipamentos eletrônicos ou terem o apenas a celulares de baixa qualidade, que os deixavam sem condições de acompanhar as videoaulas. Outros jovens ainda se viram forçados a ter que ajudar a família, em razão do desemprego dos pais, procurando alguma forma de trabalho para colaborar no sustento familiar.
Uma pesquisa do Datafolha mostrou que, dos alunos das redes públicas municipal e estadual que continuaram a acompanhar as aulas remotamente, a maioria encontra-se desmotivada, segundo a percepção dos pais ou responsáveis, que temem que os filhos acabem desistindo dos estudos, o que contribuiria ainda mais para o aumento da evasão escolar.
A realidade do estudo remoto sem a presença dos professores gera ansiedade e insegurança. A falta da interação social com outros alunos também é fator desestimulante.
Para os docentes, a realidade não foi mais fácil, já que muitos tiveram pouquíssimo tempo para se adaptar a diferentes métodos de ensino. Alguns professores conseguiram manter aulas ao vivo pela internet, outros tiveram que produzir vídeos gravados, com perda da interação. O fato é que a grande maioria dos professores não foi treinada para fazer uso intensivo de tecnologia no ensino. Assim, houve dificuldades para transmitir o conteúdo básico, com tentativas de uso de plataformas digitais ou mesmo por meio de material impresso.
Ao mesmo tempo que a reabertura das escolas é necessária, para que não se amplie ainda mais o fosso da falta de escolaridade, a retomada deve ser extremamente bem planejada, com adoção de protocolos sanitários rígidos, com uso de termômetros digitais, álcool em gel, sabonetes, máscaras e medidas de distanciamento entre os alunos entre si e os professores.
Em alguns países estrangeiros, o recomeço das atividades escolares ocorreu antes ou ao mesmo tempo que a reabertura das atividades comerciais, devido a um entendimento de que os danos às crianças e adolescentes podem se tornar irreparáveis.
Nesse contexto, grande número de professores apresenta-se reticente e apreensivo quanto ao retorno das aulas presenciais. Por isso é fundamental o treinamento de professores para os protocolos sanitários, a fim de que não se frustre a retomada com o aumento da contaminação. Também é necessário o diálogo com os pais, que deverão participar do processo de reinserção ao ambiente escolar.