ESCOLAS MUNICIPAIS

Merenda é alvo de críticas em Taubaté: 'crianças am fome'

Por Julio Codazzi | Taubaté
| Tempo de leitura: 5 min
Montagem feita com fotos enviadas pelas mães dos alunos
À esquerda, amostra da merenda. No meio e à direita, o chips de maçã
À esquerda, amostra da merenda. No meio e à direita, o chips de maçã

Grande intervalo entre refeições, proibição de repetir a comida, redução na quantidade de proteína, problemas no preparo dos pratos e a oferta de uma fruta desidratada que machuca a boca das crianças.

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Esses foram os relatos feitos à reportagem por nove mães de alunos da rede municipal de Taubaté - os filhos delas estudam em seis diferentes escolas da cidade.

Segundo essas mães, o problema é observado desde o fim do ano ado e se agravou no último mês, quando o governo Sérgio Victor (Novo) reduziu em 7,39% o contrato para fornecimento de merenda - o que possibilitará uma economia de R$ 13,3 milhões até julho do ano que vem

Questionada pela reportagem sobre os relatos das mães, a Prefeitura alegou as reclamações são "inverídicas e sem fundamento" (leia mais abaixo).

Horários.

A reclamação sobre o intervalo entre as refeições foi feita por mães de alunos do ensino integral - ou seja, que ficam nas escolas nos períodos da manhã e da tarde. "Na parte da manhã, tiraram o café das crianças. O almoço é por volta de 11h, e não pode repetir a merenda. Cortaram as frutas, as carnes. Esses dias, minha filha comeu arroz com chuchu no almoço. Outro dia, foi sopa de fubá. E depois, à tarde, tem um lanche só", disse a mãe de uma aluna da escola Sargento Everton Vendramel de Castro Chagas, no Sítio Santo Antônio.

Essa mesma mãe afirmou que a filha, que tem nove anos, chegou a ter mal estar após ar fome na escola. "Ligaram para mim três dias seguidos [da escola] para falar que ela estava ando mal. Eu fui buscar, levei na UPA, a médica disse que ela não tinha nada, que estava apenas com fome, e deu soro com vitamina para ela. Agora eu mando ela para a escola com suco e lanche, e ela vai no banheiro para comer escondido".

Relato semelhante foi feito pela mãe de dois alunos da escola Emilio Amadei Beringhs, no Marlene Miranda. "O meu filho, no integral, chega na escola 8h50. Eu não sabia que ele não podia tomar café lá e deixei ele ir sem comer em casa. Voltou dizendo que não deixaram comer na escola, porque a comida era contada. E no almoço, quando dão carne, são cubinhos de frango ou pernil, colocam dois pedacinhos. Se eles pedem mais, a tia fala que não pode, que é só o que cabe na colher. Para mim é um absurdo, porque tem criança que vai para a escola para comer, porque não tem o que comer em casa".

A mãe de um aluno da escola do Sedes (Sistema Educacional de Desenvolvimento Social) também reclamou do intervalo entre as refeições no integral. "Ficar das 11h até as 15h30 sem comer é muito tempo".

Preparo.

Das mães ouvidas pela reportagem, quatro têm filhos na escola do Marlene Miranda. As quatro reclamaram de problemas no preparo da merenda. "A comida não tem sal, o feijão é duro. Já usaram até água para substituir o leite no achocolatado e no sucrilhos. Tem dia que meu filho nem quer entrar na escola", disse uma das mães. "Minha filha diz que, na maioria dos dias, servem feijão duro e ovo sem gosto", afirmou outra mãe.

"Nossas crianças chegam em casa com muita fome. Criamos um grupo, e lá tem muitas mães que relatam a mesma coisa", disse uma terceira mãe. "A minha filha chega em casa morrendo de fome porque não comeu na escola, porque a comida tava ruim", afirmou uma quarta mãe.

A mãe de uma aluna da escola Professora Anita Ribas de Andrade, no Itaim, também reclamou da qualidade da comida. "Já faz alguns meses que minha filha vem reclamando da comida da escola. Disse que teve dia em que o ovo estava verde e o arroz embolorado. Isso é uma baita sacanagem, pode causar uma intoxicação alimentar. É muito difícil e muito triste ao mesmo tempo".

Chips.

Outra reclamação repetida entre as mães é com relação ao chips de maçã desidratada. Uma delas, cujo filho estuda na unidade do Jardim dos Estados, disse que teve que levar o menino às pressas para o dentista após ele se ferir com o alimento. "Depois de servirem chips de maçã, machucou a gengiva. Além da dor que ele sentia, gastamos dinheiro com consulta particular, exames e remédios".

"Esse chips é duro. Quando você come, machuca a boca, a gengiva, as crianças não gostam. A minha filha não pega, e ela falou que os coleguinhas pegam e jogam fora, porque é muito ruim", disse outra mãe, que tem uma filha na escola do Sítio Santo Antônio.

"Todo dia as crianças estão recebendo esse chips no lanche. Minha filha nem aguenta mais comer. Sobra tanto que eles deixam trazer para casa. Entendo que seja saudável, mas isso é única opção? Antes davam lanche normal, com bolacha, pão com geleia, frutas e leite", disse a mãe de uma aluna da escola do Alto São Pedro.

Prefeitura.

Questionada pela reportagem, a Prefeitura alegou que não recebeu - via escolas, comissões fiscalizadoras da alimentação escolar, CAE (Conselho de Alimentação Escolar), ouvidoria ou protocolo - nenhuma reclamação semelhante às relatadas ao jornal pelas mães. "Vale destacar que são inverídicas e sem fundamento as reclamações destacadas", afirmou a istração municipal.

A Prefeitura também alegou que, no corte feito no mês ado no contrato, "a Secretaria de Educação procedeu à reestruturação dos cardápios escolares, com vistas à manutenção da qualidade nutricional das refeições fornecidas aos estudantes", e que "tal reestruturação foi conduzida com base em substituições de itens pertencentes ao mesmo grupo alimentar, sem comprometimento da variedade ou da composição nutricional prevista, tampouco redução dos grupos alimentares contemplados".

A Prefeitura argumentou que, "em conformidade com as diretrizes nutricionais" do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e "respeitando os parâmetros técnicos, foram realizadas adequações específicas quanto à oferta de verduras e legumes nas refeições", e que "as referidas alterações consistem na alternância planejada desses alimentos nas diferentes preparações, assegurando a diversidade nutricional e a regularidade da oferta".

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