08 de junho de 2025
OPINIÃO

Um obstáculo ou um degrau? 2z1e5x


| Tempo de leitura: 3 min

- “Bom ponto, mas é muito difícil agir assim com um paciente.”Essa foi a frase que me inspirou o artigo de hoje, levando-me a uma reflexão que achei ser prioritário compartilhar neste espaço que me é concedido, mesmo sendo essa a semana de Natal e uma das mais características do ano. Que seja esse texto, então, um presente carinhoso a todos vocês que me acompanham. Saibam que vocês são os meus presentes.Para os que não estão entendendo, eu tenho o prazer de explicar. Todo artigo escrito por mim é revisado pela minha fiel “escudeira”, a Andrea, ou por algum amigo(a) de muita confiança.Foi o caso deste, de tema ressonante ao de outras mídias publicadas na semana, em que criei uma anedota: Caso o Papai Noel viesse ao meu consultório, como deveria orientá-lo tendo em vista minha condição de médico contemporâneo, mas também minhas outras formações, como a osteopática?Comentei que dificilmente proíbo algum paciente de fazer algo, de seguir com algum hábito que tenha. Acredito que o posto a mim confiado por Hipócrates, Galeno e outros colegas que diretamente me ensinaram, presentes no recitar do meu juramento há mais de 20 anos, me qualifiquem a muitas tarefas únicas, mas decidir sobre a vida alheia certamente não é uma delas.Contudo, como posso manter a boa medicina se não censurar o São Nicolau pela sua obesidade visceral? Ou pelas botas pouco anatômicas que cegam seus pés do solo? Longas horas sentado sem dar-se o descanso de se levantar ou ficar de cócoras?- “Duvido que você não mande um tabagista parar de fumar!” – disse categórica minha provocativa revisora. Muito obrigado pela oportunidade! Faço questão de mudar o artigo e apresentar minha conduta a todo hábito insalubre.O tempo é (também) um grande mestre de medicina e me ensinou que, ao sair da minha miopia e ampliar minha visão e entendimento do mundo, mesmo os fatos mais perigosos e desagradáveis tem um viés positivo. Claro que, ao mesmo tempo, nada é completa e incondicionalmente bom. Água é a fonte da vida, mas a hiper-hidratação é mortal, quem já excursionou na UTI bem o sabe.Como bênção e maldição são duas caras da mesma moeda, problemas nos pacientes seguem a mesma lei: podem ser obstáculos ou degraus para uma escada mais alta.O paciente é obeso? Eu não o “mando” emagrecer ou, o que é mais inútil ainda, “parar de comer”; eu o questiono, sim, onde pretende chegar com a vida dele. Normalmente a resposta segue a via onde a vida é mais próspera, como, “quero me aposentar e viajar” ou “quero ‘curtir’ meus netos”.Neste ponto o lembro, então, que existem boas evidências de que não irá chegar na aposentadoria com joelhos que permitam viajar, caso não emagreça. Ou que netos gostam de jogar bola com avôs, o que será impossível se uma diabetes descompensada lhe impeça de sentir os pés.Não sou cruel, não sou autoritário. Sou real. Reforço o que o corpo dele já demanda: atenção de alguma forma. Falo hoje aquilo que, em alguns anos, ele sinceramente gostaria de que alguém tivesse lhe falado.O corpo não se sabota. Ele pede, mas não implora. Não se reduz e nem recua. Ele mostra o imprescindível para a felicidade, de agora e para o “depois”. Eu sou só um intérprete e um amplificador do pedido, nada além.Dito isso desejo a todos um lindo ano novo e  ... alguns degraus, por que não? 5m5j58

Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia ([email protected])