Durante meus mandatos à frente da Prefeitura de Jundiaí, tive o privilégio de acompanhar de perto a transformação urbana de uma cidade que sempre se destacou por planejar com responsabilidade o seu futuro. Um dos projetos que simboliza essa busca por soluções inovadoras foi o Onda Verde. Na época em que o fluxo de veículos ainda não era tão intenso, implantamos esse sistema que permitia a abertura sequencial dos semáforos em avenidas. O objetivo era simples: dar mais fluidez ao trânsito. E conseguimos. Para aquele momento, era uma novidade que antecipava discussões que hoje são urgentes nas grandes e médias cidades brasileiras.
Atualmente, o cenário urbano do país é desafiador. Cidades enfrentam déficits profundos em áreas básicas como saneamento, saúde, segurança e educação. Em alguns estados, cerca de 30% da população ainda não tem o adequado a esses serviços. A mobilidade urbana, por sua vez, tornou-se um dos maiores gargalos enfrentados pela população. O trânsito excessivo consome tempo, energia e impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas.
Alguns municípios, especialmente no Estado de São Paulo, conseguiram avançar em diversos indicadores sociais e de infraestrutura. No entanto, mesmo nesses casos, o trânsito permanece como um problema central. O crescimento urbano acelerado, muitas vezes sem o devido planejamento, agravou os deslocamentos diários e tornou insustentável a lógica de cidades pensadas apenas para os carros.
Uma alternativa concreta para esse ime começa pelo fortalecimento do plano diretor, que deve ser mais que um instrumento técnico — deve ser um pacto social em torno da cidade que queremos. O plano precisa privilegiar o conceito de cidade compacta: onde a moradia, o trabalho, a escola, o comércio e os serviços essenciais estejam próximos. Uma cidade que reduz a necessidade de grandes deslocamentos é mais humana, mais eficiente e mais sustentável.
A infraestrutura viária também precisa ser repensada. Viadutos e pontes são importantes, mas não podem ser a única resposta. É fundamental investir em faixas exclusivas para ônibus de trânsito rápido (BRT), metrôs, ciclovias, mas principalmente, em transporte público de qualidade. Transporte coletivo confiável, pontual e ível estimula a população a deixar o carro em casa.
O trânsito, além de ser um problema social, tornou-se uma questão de saúde pública e de produtividade. Horas perdidas em engarrafamentos prejudicam a economia e afetam o bem-estar da população. Para enfrentarmos esse desafio, precisamos de soluções inovadoras — e a tecnologia, especialmente a Inteligência Artificial (IA), pode ser uma aliada poderosa.
Cidades como Barcelona, Singapura e algumas capitais brasileiras já estão utilizando sistemas inteligentes para controlar semáforos em tempo real. Esses sistemas utilizam IA para monitorar o fluxo de veículos, ajustar os tempos de sinalização e garantir maior fluidez ao tráfego. Os resultados são promissores: redução de até 20% no tempo médio de deslocamento e diminuição na emissão de poluentes.
Jundiaí também pode — e deve — se inserir nesse contexto. Sempre tivemos orgulho de ser uma cidade que antecipa soluções. No ado, decidimos enfrentar o desafio do abastecimento de água com responsabilidade, e hoje colhemos os frutos dessa decisão. A garantia de água para os próximos anos é resultado de planejamento, investimento e visão de longo prazo.
O mesmo deve ser feito com a mobilidade urbana. O que construímos hoje será determinante para a qualidade de vida de futuras gerações. Medidas pontuais ajudam no presente, mas precisamos de ações estruturantes, capazes de transformar de forma duradoura a maneira como nos movemos pela cidade.
A Inteligência Artificial não é mais coisa de filme futurista. Ela já está aqui — mudando o jeito que vivemos, trabalhamos e nos deslocamos. Em Jundiaí, plantamos muitas sementes tecnológicas. Agora, é hora de pensar: como usar essa tecnologia para cuidar melhor das pessoas.
O futuro das cidades não depende só de dados e máquinas. Depende de gente comprometida com a vida real. De gestores públicos, de empresas, de cidadãos. De todos nós.
Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí e ex-deputado federal