Caro leitor, hoje resolvi falar a respeito da solidão e de suas variadas formas. Às vezes, ela se apresenta como o silêncio de uma casa vazia. Em outras, como o vazio no meio de uma multidão. Pode ser uma ausência física — alguém que partiu, uma companhia que falta. Mas pode ser também a ausência mais sutil: a de não ser verdadeiramente visto, ouvido, compreendido.
Vivemos numa era conectada. Estamos o tempo todo cercados por vozes, notificações, telas acesas. E, mesmo assim, talvez nunca tenhamos nos sentido tão sós. A solidão contemporânea não é apenas estar longe dos outros — é, muitas vezes, estar longe de si. É estar cercado de estímulos e ainda assim sentir um vazio que nada preenche.
Há quem tente calar a solidão com barulho: excesso de trabalho, redes sociais, compromissos, distrações. Mas ela tem uma voz própria. Não grita, não faz escândalo. Apenas sussurra, persistentemente, nas pausas, nas noites longas, nas conversas que não tocam o essencial.
É importante lembrar que estar só não é, necessariamente, ser solitário. A solitude — o estado de estar bem consigo mesmo — pode ser fonte de descanso, de encontro interior, de criação. Há um silêncio que cura, que reorganiza, que fortalece. Mas a solidão que fere é aquela que isola, que exclui, que nos faz sentir desconectados mesmo entre rostos familiares.
E é preciso falar sobre isso. Porque a solidão não é sinal de fracasso, nem deve ser motivo de vergonha. É uma experiência humana, comum, que em algum momento alcança a todos. Ainda assim, muitos se calam, vestem sorrisos e seguem, como se tudo estivesse bem. O mundo cobra performance, mas pouco acolhe vulnerabilidades.
Falar sobre solidão é também falar sobre vínculo. Sobre como nos relacionamos. Quantas vezes nos calamos por medo de incomodar? Quantas vezes nos afastamos quando tudo o que queríamos era alguém que ficasse? Às vezes, um gesto simples pode romper o isolamento: um olhar atento, uma escuta genuína, uma presença que não precisa de grandes palavras.
Em um tempo em que tudo é tão acelerado, onde os laços se tornaram muitas vezes descartáveis, precisamos reaprender a estar presentes. Presentes de verdade. Porque o antídoto para a solidão não está na quantidade de pessoas ao redor, mas na qualidade das conexões que cultivamos.
A solidão nos convida a olhar para dentro, a reconhecer nossos vazios, a compreender o que realmente nos falta. Ela pode ser um ponto de partida para mudanças, para reencontros, para reconstruções. Mas, para isso, precisa ser acolhida — não negada, não ignorada, não disfarçada.
É preciso coragem para dizer: “estou me sentindo só”. E é preciso humanidade para escutar isso do outro com respeito e empatia. Porque, no fim das contas, todos nós desejamos a mesma coisa: pertencimento. E talvez, ao reconhecer a solidão no outro, a gente se encontre um pouco mais também.
Micéia Lima Izidoro é professora ([email protected])