OPINIÃO

O caminho para um corpo saudável é o movimento!


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Quando falamos em treinamento físico, quase sempre o foco está no fortalecimento muscular, na busca por hipertrofia ou na definição estética. É comum ouvir expressões como “malhar o bíceps”, “trabalhar o abdômen” ou “ganhar perna”. No entanto, essa visão reducionista ignora algo essencial: quem dá e, direciona e permite a ação eficiente dos músculos são as articulações.

O músculo, por mais força ou volume que tenha, não possui inteligência própria. Ele contrai ou relaxa conforme estímulos do sistema nervoso, mas é a articulação que guia a qualidade desse movimento. A saúde articular é, portanto, a base para um corpo funcional, equilibrado e livre de lesões.

Infelizmente, a maioria das pessoas negligencia esse aspecto, treinando de maneira automática e repetitiva, priorizando cargas e repetições, sem cuidar da mobilidade, da estabilidade e do alinhamento articular. O resultado? Desgastes precoces, dores crônicas, rigidez e uma perda gradual da capacidade de se movimentar bem.

Cada articulação do corpo tem uma função predominante que precisa ser respeitada: ou prioriza a mobilidade, ou a estabilidade. Por exemplo, o tornozelo e o quadril necessitam de boa mobilidade, enquanto o joelho exige estabilidade para proteger os ligamentos. Já a coluna lombar precisa ser estável, enquanto a torácica deve ter mobilidade para permitir rotação e flexão saudável.

Quando falamos em treinamento inteligente, falamos sobre reconhecer essas funções e direcionar estímulos adequados. O erro mais comum é tentar “ganhar mobilidade” onde não deve, forçando articulações estáveis, ou deixar rígidas aquelas que deveriam ser móveis, criando compensações que sobrecarregam estruturas e geram lesões.

Treinar as articulações significa educar o corpo a se mover bem, com eficiência e segurança, respeitando suas funções naturais. Um corpo bem treinado não é apenas forte ou resistente, mas é também fluido, ágil, estável e principalmente, livre.

Quando o foco começa a ser a saúde articular, naturalmente começamos a tão sonhada prevenção das lesões: A maioria das lesões músculo-esqueléticas ocorre por falhas no controle articular, excesso de rigidez ou instabilidade. Um quadril rígido, por exemplo, transfere sobrecarga para a lombar, gerando dores crônicas.

Atletas que treinam suas articulações adequadamente melhoram a performance. Saltam mais alto, correm mais rápido e têm maior resistência, justamente porque otimizam a mecânica do movimento, aumentando a longevidade funcional, ou seja, cuidar das articulações significa manter a capacidade de agachar, levantar, girar e caminhar com qualidade ao longo da vida. Um corpo que se move bem envelhece com saúde e independência.

Além disso, exercícios que envolvem mobilidade e estabilidade desenvolvem propriocepção, ou seja, a capacidade de perceber e ajustar os movimentos, evitando erros técnicos e desequilíbrios.

Você sabe como fazer para treinar as articulações de forma inteligente? Simples: o caminho é aliar força, mobilidade e controle motor. Algumas práticas essenciais, como treinos de mobilidade articular, trabalhos de controle postural, fortalecimento de músculos estabilizadores e ativação dos músculos que fazem parte do “core”, como exercícios unilaterais, contralaterais, rotações, desequilíbrios, e o treinamento dos movimentos fundamentais, que são: agachar, avançar, inclinar, empurrar, puxar, torcer e caminhar, nos três planos de movimentos que temos, o sagital (para frente e para trás), o frontal (de um lado para outro) e o transversal (ou em rotações), deixam nossas articulações espertas.

Os alongamentos funcionais e o olhar para as fáscias são maneiras de liberar tensões e melhorar a qualidade dos tecidos que atravessam as articulações, aumentando a fluidez dos movimentos, pois o corpo não funciona em partes isoladas, tudo está conectado.

Por isso, além do trabalho específico de cada articulação, é fundamental integrar movimentos que envolvem cadeias musculares completas, como agachamentos, rotações e deslocamentos.

O corpo humano foi desenhado para o movimento! Desde o nascimento, exploramos diferentes padrões motores: rolar, engatinhar, sentar, ficar de pé, correr, saltar. No entanto, o estilo de vida moderno, excessivamente sedentário e , limita essa diversidade, contribuindo para a rigidez articular, perda de mobilidade e o aumento de dores e disfunções.

Mais do que treinar músculos, precisamos treinar para a vida. Um corpo que se move bem, se sente bem. A estética, tão buscada, será uma consequência natural de um sistema bem estruturado, eficiente e equilibrado.

Mas é preciso compreender que o treinamento articular exige conhecimento técnico, sensibilidade e planejamento. Não se trata de fazer alongamentos aleatórios ou modismos, mas de aplicar estratégias que respeitem a individualidade de cada pessoa, suas necessidades, limitações e objetivos.

Treinar articulações é treinar “inteligência corporal”. É sair do automatismo da força bruta para a sofisticação do movimento eficiente. É prevenir dores, ampliar a liberdade de ação e construir um corpo que não apenas parece forte, mas que realmente seja forte, estável e saudável. Convido você a refletir: seu treino atual cuida das suas articulações ou está apenas focado em músculos? A verdadeira saúde começa no movimento. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil ([email protected])

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