OPINIÃO

Rubi do Calvário


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Interessante a vida. A gente viaja num pequeno barco com velas brancas até que o vento mude, de uma hora para outra a direção. E é nessas mudanças que percebemos não ser senhores disto ou daquilo. Estive alguns dias em casa e fazendo tratamento para uma sinusite fortíssima. Com muita fraqueza, dores e sem coragem para fazer alguma coisa. Entreguei-me à vontade de Deus. De firmeza tinha apenas a vontade de que Deus, a fim de me mostrar o melhor caminho para melhorar. Que fosse dEle. Isso começou no dia 22 de maio. Festa de Santa Rita de Cássia, da qual sou devota.

A homilia do Padre Márcio Felipe, Reitor do Santuário de nossa Diocese, foi fantástica. Considera que o testemunho de vida dado por Santa Rita é um forte convite para que todos nós fixemos os nossos olhos na virtude da esperança, sem perder de vista a fé e a caridade, que nos impulsionam a ‘avançar para águas mais profundas’ (Lc 5, 4).

Penso que nas águas mais profundas o vento é impetuoso e nosso barquinho pode estancar.

Padre Márcio acrescentou sobre Santa Rita de Cássia: “No sofrimento da história que Deus lhe permitiu viver, ela não se lamentou, mas ou tudo com dignidade, reconhecendo que, em comunhão com Deus, tudo é possível."

A sua chaga na fronte, quando pediu a Jesus que lhe concedesse participar de suas dores, impressiona-me demais. Ajoelhada diante de uma imagem do crucifixo, um espinho desprendeu-se da coroa, vindo a penetrar profundamente sob a testa de Rita, que caiu desmaiada. Ao voltar a si, percebeu que havia recebido uma chaga de Cristo, a exemplo de outros santos. Diferentemente das chagas de São Francisco e de outros santos que tinham cor de sangue puro e não eram repugnantes, a de Rita se converteu numa ferida purulenta e com mau cheiro. Para não empestear a casa, ela se recolheu numa cela distante, onde uma religiosa levava o necessário para viver. Ou seja, como disse o Padre Márcio Felipe, em momento algum desviou seu barquinho da direção do Crucificado e, dessa forma, o mal não prevaleceu e caminhou com alegria rumo à pátria definitiva.

Faço memória afetiva de um poema que li e decorei no meu tempo de Magistério e do qual não sei o autor: Colar de Rubis. Numa caixa de joias, muito fina, /de seda purpurina, De brilhante matiz,/Cintilavam rubis./ Tomei, em minhas mãos, o custoso colar/ E cada um rubi começou a falar:/ — Eu, disse o primeiro, sou o rubi/ oriental!/ Nas pedras preciosas não conheço rival./Sigo por sobre a terra, em marcha triunfante,/ Pois diante de mim, curva-se o diamante. 
Sou o mais forte, também e o de mais valor.!/ (...)Um outro rubi, quase minúsculo, /Guardava a cor magoada do crepúsculo./Parecia querer se amesquinhar/Entre todas as pedras do colar;/mas tinha um brilho estranho e peregrino./ — "De onde vens" — perguntei ao rubi pequenino./ "Conta-me a tua história de pedra preciosa./ Vieste do Tibet? Da Índia misteriosa?/ És, de certo, o rubi mais raro do Oriente”. E o pequeno rubi falou, pausadamente:/ — Sabes por que o meu brilho é extraordinário,/ Que ofusca a própria luz? / É que eu nasci no cimo do Calvário/ Sou o rubi do sangue de Jesus!...

Nos momentos de vento contrário, insisto contra o vento e permaneço em direção ao Calvário. 
 
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista ([email protected])

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