A população mundial está encolhendo. Infelizmente não é uma figura de linguagem, é realidade. Desde os anos 60, a taxa de fertilidade global caiu pela metade. Atualmente, dois terços da humanidade vivem em países que não geram filhos suficientes para manter a própria população. Os números são claros e comprovam o esvaziamento planetário da raça humanoide. Segundo dados compartilhados por Willians Fiori, especialista em longevidade, o mundo está ando por uma transição demográfica inédita. No Japão, a média é de 1,3 filhos por mulher. Na Coreia do Sul, despenca para 0,8 — a mais baixa do mundo. No Brasil, estamos em 1,6, bem abaixo da taxa de reposição. Na Europa, desde 2012, a morte supera o nascimento. Já a China, que por décadas temeu crescer demais, agora se inquieta com a possibilidade de desaparecer.
Durante séculos, a maternidade esteve associada ao sacrifício, à abnegação, ao amor incondicional. No entanto, nas últimas décadas, é vista por muitos como prisão, renúncia e até erro. A era da autoconsciência e do empoderamento trouxe o direito de criticar o custo emocional e físico da maternidade, edificando uma cultura que valoriza a autonomia individual acima de tudo.
A filósofa Elisabeth Badinter em “O Mito do Amor Materno” (1985), afirma que o ideal de mãe amorosa e dedicada foi uma construção cultural consolidada a partir do século XVIII, com o interesse de preservar a população e fortalecer o núcleo familiar. No entanto, a idealização da mãe perfeita, sempre disponível e paciente, criou um padrão inalcançável. Nas décadas de 60 e 70, com a ascensão dos movimentos feministas, a maternidade ou a ser revista sob um olhar mais crítico e o direito a de dizer “não quero ser mãe”.
Esse discurso evoluiu para a “demonização da maternidade” a partir do momento em que a mulher precisou manter a performance de sucesso e produtividade extrema, competindo com o universo masculino. A maternidade ou a ser vilã, tratada como opressora e a consequente rejeição em ser mãe, sinônimo de fracasso pessoal, perda de liberdade e desperdício de potencial.
Por outro lado, há o aspecto no qual a maternidade é tratada como “missão de formação moral e espiritual” que transcende o aspecto biológico. O amor materno é capaz de curar e moldar vidas, segundo o filósofo e educador Guilherme Freire. Para ele, a maternidade é um processo contínuo de aprendizado e dedicação. Ele destaca a importância de resgatar os valores fundamentais que sustentam a estrutura familiar e dão sentido à maternidade como vocação e responsabilidade. Ao valorizar uma liberdade desvinculada do dever e da transcendência, acabou por tratar a maternidade como um fardo, uma limitação ao desenvolvimento pessoal ou profissional da mulher, em vez de compreendê-la como um ato de profundo valor social, espiritual e humano.
Embora o custo de vida e a insegurança financeira influenciem na tomada de decisão de não se ter filhos, há mais fatores por trás da desculpa econômica. Assistimos a uma transformação do significado da maternidade e da paternidade na era moderna. O fato é que se não tomarmos cuidado a raça humana poderá ser extinta. Os dados demográficos confirmam!
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
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