Vencida a pandemia, período no qual os cursos de graduação foram permitidos quase que integralmente na modalidade EAD, o governo finalmente publicou a nova Política Nacional de Educação a Distância. A medida vem em boa hora. O ensino remoto virou febre no país, multiplicando-se sem critério e, em muitos casos, contribuindo para a péssima formação superior de milhares de brasileiros. O que era para ser uma ferramenta de democratização virou, em muitos casos, uma verdadeira máquina de vender diplomas — muitas vezes sem o devido preparo técnico, ético e humano.
Não sou contra o ensino a distância. Pelo contrário, acredito que ele tem seu lugar e pode ser extremamente útil, especialmente para quem já ou pela experiência universitária. No entanto, defendo com firmeza que a primeira graduação de qualquer pessoa, independentemente da idade, não poderia ocorrer de forma totalmente remota.
O ambiente acadêmico é insubstituível. Ele faz parte da formação social, política, moral e econômica dos indivíduos. É na vivência universitária presencial que o cidadão começa a desenvolver senso crítico, aprende a conviver com pensamentos divergentes e constroi laços sociais que vão muito além do conteúdo de sala de aula.
Permitir que a primeira formação seja totalmente online é, em grande medida, privar o estudante desse contato humano essencial. Tira-se a oportunidade de fazer amizades, entender dinâmicas de grupo, experimentar o contraditório e amadurecer em diversos aspectos da vida. Por isso, defendo que o EAD seja permitido apenas como segunda graduação, e ainda assim com ressalvas.
Em áreas como saúde, direito e engenharias, mesmo a segunda graduação deveria ser, obrigatoriamente, presencial. A complexidade desses cursos exige vivência prática, estágios supervisionados e contato direto com pessoas, situações reais e dilemas éticos. O ensino a distância, nesses casos, deve se restringir a cursos de extensão e pós-graduação, para quem já ou por uma formação presencial e adquiriu a base necessária.
Portanto, vejo com bons olhos a iniciativa do MEC em regular o setor. Uma regulação mais rigorosa certamente contribuirá para a formação de uma sociedade mais crítica, ética e preparada. A universidade não é apenas um lugar de aquisição de conhecimento técnico, mas, sobretudo, um espaço de formação do caráter sociopolítico dos cidadãos.
Preservar essa experiência é proteger o futuro do país.
Marcelo Silva Souza é advogado e consultor jurídico ([email protected])