OPINIÃO

Reconectar


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Vivemos tempos em que a conexão tornou-se, paradoxalmente, um desafio. Nunca estivemos tão “conectados” tecnologicamente, mas tão desconectados de nós mesmos, do nosso corpo, das nossas emoções e da nossa essência. A velocidade das informações, a pressão das responsabilidades e a ausência de pausas transformaram a vida cotidiana em uma corrida sem linha de chegada, uma competição eterna. E o preço dessa desconexão se manifesta silenciosamente na saúde física, emocional e mental, cada dia mais e mais.

Reconectar-se é, antes de tudo, um convite ao centramento. Centrar é voltar para o eixo interno, encontrar equilíbrio entre ação e pausa, entre fazer e simplesmente ser. Aquele local delicioso que temos o poder de mergulhar fundo dentro de nós, difícil de ar, mas quando descoberto, não temos mais vontade de sair de lá. Costumo chamar esse lugar de “melhor lugar do mundo”. Facilmente ível através da meditação, da oração, do silêncio e do contato com a natureza. Você costuma ir ao encontro do seu “melhor lugar do mundo”, da conexão consigo mesmo?

Na fisiologia humana, esse movimento de retorno tem implicações profundas, especialmente em nosso sistema nervoso. A prática da pausa, do silêncio e da meditação ativa áreas cerebrais ligadas ao autocontrole, à empatia, à criatividade e à resiliência emocional. Ao mesmo tempo, regula o sistema nervoso autônomo, estimulando o ramo parassimpático, que favorece o relaxamento, a digestão, a recuperação e a cura.

Em um cenário marcado pelo aumento alarmante de quadros de burnout, estresse crônico, fadiga, depressão e ansiedade, falar sobre reconexão é mais do que necessário: é urgente. A Organização Mundial da Saúde já reconhece esses estados como epidemias do século XXI, resultado, em grande parte, de estilos de vida marcados pela hiperatividade mental, pela escassez de sono reparador e pela ausência de espaços de pausa e contemplação.

Ao nos reconectarmos, criamos condições fisiológicas para que o organismo saia do estado de alerta constante, conhecido como “fight or flight” ou estado de luta ou fuga, e retorne ao estado de “rest and digest” ou descanso e digestão. Esse ajuste é essencial para a prevenção e a reversão dos efeitos do estresse crônico, como alterações hormonais, inflamações sistêmicas, insônia, dores musculares e quadros ansiosos e depressivos.

Além disso, o silêncio e a pausa são nutrientes indispensáveis para a saúde mental. No silêncio, ampliamos nossa percepção, regulamos nossas emoções e cultivamos a presença. A prática regular de meditação, por exemplo, já conta com ampla comprovação científica quanto à sua eficácia na redução de sintomas de depressão, ansiedade e estresse, além de melhorar a qualidade do sono, aumentar a clareza mental e fortalecer a nossa imunidade.

Reconectar-se, portanto, significa refinar a escuta interna. Num mundo de ruídos externos, aprender a silenciar é uma arte terapêutica mais do que necessária. Escutar o próprio corpo, perceber as tensões acumuladas, notar os padrões repetitivos de pensamentos e emoções são habilidades que podem ser desenvolvidas e que fazem toda a diferença na promoção da saúde integral. è preciso aprender a se conectar e praticar sistematicamente, como um remédio homeopático que atua em prol da saúde através da constância e da fé de que funciona.

Essa reconexão pode ar ainda pelo corpo através do movimento. Práticas de consciência corporal, como exercícios posturais, alongamentos miofasciais, técnicas respiratórias e movimentos integrativos, são recursos valiosos para ativar os circuitos de presença e percepção, fortalecendo o tônus muscular de forma equilibrada, melhorando a postura e liberando tensões crônicas. Como uma meditação através do movimento consciente, já que aliando o movimento à respiração ritmada e profunda conseguimos um estado de flow cerebral e de atenção plena, que já faz com que não pensemos em nada além do que estamos fazendo no “aqui e agora”, relaxando a mente e saindo do estado de excesso de pensamentos.

É importante ressaltar que não se trata de negar a importância da tecnologia ou das demandas da vida moderna, mas de criar um espaço interno seguro, onde possamos recarregar as energias, realinhar as prioridades e cultivar a saúde de forma integral. Conectar-se com o silêncio, com a respiração, com a natureza e com os próprios sentimentos é, hoje, um ato de coragem e de autocuidado.

A reconexão, portanto, não é um luxo, nem tampouco um modismo, mas uma necessidade biológica e emocional. Ela é o caminho para a restauração do equilíbrio interno, para o fortalecimento da saúde mental e para a prevenção de doenças associadas ao estilo de vida desconectado. Ao escolher reconectar-se, damos um o essencial para uma vida mais plena, saudável e consciente.

Que possamos, cada vez mais, cultivar esse espaço de pausa, silêncio e presença  como uma prática cotidiana e amorosa de cuidado com nós mesmos. Experimente agora mesmo esta reconexão. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil ([email protected])

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