OPINIÃO

Micoli


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Artista que mantém seus estúdios e residência entre Itupeva e São Paulo, Roberto Micoli é representado pela Galeria Eduardo Fernandes e vem desenvolvendo uma obra vigorosa e madura, despertando grande interesse do mercado de arte.

Ao longo dos 50 anos em que vive em seu sítio em Itupeva, transita de forma discreta por Jundiaí; casas que divide com seu companheiro Alberto Camarero — também pesquisador escritor, que realiza performances —e são espaços fascinantes. O local em Itupeva já foi destaque em diversas publicações, incluindo a Vogue e as principais revistas de decoração do país.

Agora, a Galeria Eduardo Fernandes apresenta suas obras mais recentes, incluindo aquelas produzidas durante o período de reclusão na pandemia, em seu sítio no bairro Guacuri, em Itupeva. Trata-se de um conjunto de 6 pinturas, 5 objetos, 3 bordados e 1 tríptico. São obras que tem nomes como “não tem lua na minha noite”, ou a “noite escura da alma” citando poesia de San Juan de la Cruz do século 16; representação concreta da noite, da lua e da solidão — elementos que dialogam entre si e com o público de maneira sensível e instigante. “Lost” (1,60 x 1,50), obra com costuras em linhas geométricas e contínuas e que criam labirintos em que a palavra ‘lost’ se destaca entre essas linhas bordadas.

A exposição de obras é conectada por um fio condutor subjetivo: o mito do Minotauro, segundo destaca o curador Tálisson Melo.

Embora inserido na linguagem da pintura concretista, é possível perceber nos labirintos — tema recorrente — uma paleta de tons em que ele utiliza tintas de óxido de ferro misturadas ao branco titânio, criando superfícies que evocam a cor da terra, com camadas em tons mais claros, quase rosados.

As linhas, os blocos de cor, os encaixes e as dobras são caminhos que se abrem e se interrompem. Em repetições quase obsessivas, criam um ritmo de busca e desorientação muito característico da poética de Mícoli. Mais do que um pano de fundo, o labirinto se manifesta em sua obra como método compositivo e, simultaneamente, como uma condição existencial.

O que acompanho há décadas é que Mícoli sempre utilizou a tela para a construção da obra, não apenas como e para a pintura, mas ao dobrá-la, cria outra dimensão — novas estruturas que evocam maquetes urbanísticas idílicas, com cores refinadas e carregadas de significado. Para isso não hesita em usar a linguagem das costuras com fios de algodão encerado e com novos significados. São amarrados objetos atados na tela e ligações de partes de cor e até ouro que são ordenadas com rigor concreto em desenho rígido, mas poético.

A exposição está em cartaz na Galeria Eduardo Fernandes na Rua Harmonia, 145, Vila Madalena, em São Paulo, até dia 15 de junho, de segunda a sexta, das 10h às 19h.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista ([email protected])

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